Egotrip Urbana
Início das obras do Conjunto Industrial da Vila Aliança Bangu |
Eles são dois mundos em
um. Juntos e dissociados. Prazer e dor, desespero e fé, conhecimento e
ignorância, amor e ódio, diferenças e igualdades, trabalho e lazer, engajamento
e alienação, meio ambiente e homem, matéria e espírito. Paradoxais e
complementares, tendo a coexistência como pressuposto. Esta, infelizmente, nem
sempre harmônica. Minha cidade e eu.
Ela linda
e partida pelas desigualdades sociais flagrantes e evidentes. Cosmopolita e
provinciana. Apaixonante, encantadora, boêmia. Reflexo de um mundo de relações
que durante toda a vida tentei desvendar, compreender, sobreviver. Nela circulo
por todos os cantos, centro e periferia, zona norte e zona sul, e, o mais
importante, onde estão minhas origens: zona oeste. Cada canto tem seu encanto,
sua particularidade, seus atrativos. Alguns cantos têm mais encantos, outros
desencantos. A divisão arbitrária das riquezas aparta, assim como os acidentes
geográficos, as regiões. Enquanto a riqueza material se concentra no centro e
zona sul, a cultural está diluída na periferia. É claro que me refiro à cultura
popular. Pois a erudita, acadêmica, clássica, está concentrada onde se encontra
o poder político e econômico. Sou fruto da síntese da relação entre estas
partes e peculiaridades desta cidade maravilhosa, parcela do todo. Esta é
parcela do meu mundo que melhor conheço e me relaciono.
Eu, homem
do meu tempo, a parte do meu mundo que pouco tempo tive para conhecer. Que
hoje, aos 37, engatinho entre sentimentos, emoções e comportamentos. A vida
difícil e dura privilegiou o desenvolvimento racional em detrimento ao
emocional. Necessidades práticas, imediatas e pragmáticas conduziram-me pela
busca ao conhecimento como meio de sobrevivência e ascensão social neste mundo
cão, das relações humanas. Só não sabia que a opção por desvendar o mundo
exterior, abrindo mão de um contato mais estreito com o indivíduo que sou,
tinha um preço: o equilíbrio emocional e consequentemente a sanidade. Hoje
entendo a importância de valorizar o autoconhecimento como meio de perpetuar
uma relação equilibrada com o mundo exterior. Tornei-me homem, intelectual,
profissional e agente social, reunindo a minha práxis de indivíduo criado na
periferia, à margem do estado de direito, ao conhecimento formal e acadêmico.
Aprendi como se organiza o mundo a minha volta e a valorizar as diferentes
expressões da arte popular e erudita, periférica e central, abrindo mão de uma
hierarquização entre elas.
Hoje,
tenho que juntar essas diferentes partes de mim e do mundo. Valorizando o conhecimento
adquirido pela vida e pelo estudo, mas ampliar o conhecimento sobre mim mesmo.
Construir um olhar sobre quem sou nesse turbilhão de emoções, para poder
equilibrar estas partes do todo que sou, melhorando a relação com o mundo que
me cerca. Entendendo e aceitando os processos que extrapolam a minha vontade e
o meu poder de cidadão comum. Para então desfrutar da plenitude que acredito
advir do equilíbrio.
Armando Gamboa
Nenhum comentário:
Postar um comentário