quinta-feira, 6 de dezembro de 2012


Egotrip Urbana  

Início das obras do Conjunto Industrial da Vila Aliança Bangu
             Eles são dois mundos em um. Juntos e dissociados. Prazer e dor, desespero e fé, conhecimento e ignorância, amor e ódio, diferenças e igualdades, trabalho e lazer, engajamento e alienação, meio ambiente e homem, matéria e espírito. Paradoxais e complementares, tendo a coexistência como pressuposto. Esta, infelizmente, nem sempre harmônica. Minha cidade e eu.
Ela linda e partida pelas desigualdades sociais flagrantes e evidentes. Cosmopolita e provinciana. Apaixonante, encantadora, boêmia. Reflexo de um mundo de relações que durante toda a vida tentei desvendar, compreender, sobreviver. Nela circulo por todos os cantos, centro e periferia, zona norte e zona sul, e, o mais importante, onde estão minhas origens: zona oeste. Cada canto tem seu encanto, sua particularidade, seus atrativos. Alguns cantos têm mais encantos, outros desencantos. A divisão arbitrária das riquezas aparta, assim como os acidentes geográficos, as regiões. Enquanto a riqueza material se concentra no centro e zona sul, a cultural está diluída na periferia. É claro que me refiro à cultura popular. Pois a erudita, acadêmica, clássica, está concentrada onde se encontra o poder político e econômico. Sou fruto da síntese da relação entre estas partes e peculiaridades desta cidade maravilhosa, parcela do todo. Esta é parcela do meu mundo que melhor conheço e me relaciono.
Eu, homem do meu tempo, a parte do meu mundo que pouco tempo tive para conhecer. Que hoje, aos 37, engatinho entre sentimentos, emoções e comportamentos. A vida difícil e dura privilegiou o desenvolvimento racional em detrimento ao emocional. Necessidades práticas, imediatas e pragmáticas conduziram-me pela busca ao conhecimento como meio de sobrevivência e ascensão social neste mundo cão, das relações humanas. Só não sabia que a opção por desvendar o mundo exterior, abrindo mão de um contato mais estreito com o indivíduo que sou, tinha um preço: o equilíbrio emocional e consequentemente a sanidade. Hoje entendo a importância de valorizar o autoconhecimento como meio de perpetuar uma relação equilibrada com o mundo exterior. Tornei-me homem, intelectual, profissional e agente social, reunindo a minha práxis de indivíduo criado na periferia, à margem do estado de direito, ao conhecimento formal e acadêmico. Aprendi como se organiza o mundo a minha volta e a valorizar as diferentes expressões da arte popular e erudita, periférica e central, abrindo mão de uma hierarquização entre elas.
Hoje, tenho que juntar essas diferentes partes de mim e do mundo. Valorizando o conhecimento adquirido pela vida e pelo estudo, mas ampliar o conhecimento sobre mim mesmo. Construir um olhar sobre quem sou nesse turbilhão de emoções, para poder equilibrar estas partes do todo que sou, melhorando a relação com o mundo que me cerca. Entendendo e aceitando os processos que extrapolam a minha vontade e o meu poder de cidadão comum. Para então desfrutar da plenitude que acredito advir do equilíbrio.

Armando Gamboa

Foto: Egotrip Urbana: um panorama da minha relação com a cidade "maravilhosa". Vale a pena conferir.
http://fernandosaude.blogspot.com.br/        

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